Antes de uma abordagem mais profunda
do currículo na alfabetização é imprescindível que falamos o que é o currículo.
O currículo são ações planejadas e
organizadas pela escola e é feita em grupos ou individuais dentro ou fora da
escola, descreve as habilidades, desempenhos, atitudes e valores que os alunos
deverão aprender com a escolaridade, ele inclui o conteúdo utilizado (o
programa) os métodos utilizados (estratégias) e outros aspectos com normas e
valores, que se relacionem como a forma que a escola está organizada. Com a
utilização de novas tecnologias para facilitar o aprendizado das crianças.
Como diz Chartier (2000), “as mudanças nas práticas de ensino, seria as
alterações nos conteúdos, a serem ensinados”, podemos citar as
transformações do trabalho pedagógico, as diferentes formas de alfabetizar, o
ensino da leitura e da escrita com o desenvolvimento em várias áreas
socioeconômicas, na organização escolar e na utilização de novos materiais.
As mudanças nas práticas de
escolarização, com outras áreas do conhecimento se relacionam a mudanças curriculares,
como apontados por Moreira e Silva (1994), o currículo não como conteúdo que é
transmitido e absorvido, mas como um veículo a meio de tensões, se produz e
reproduz a cultura.
Moreira e Candau (2007) referem-se ao
currículo como: “experiências escolares
que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais e que
contribuem para a construção das identidades de nossos (as) estudantes”. (pág
18).
Um pouco da história dos métodos de alfabetização
Em 1980, houve uma discussão sobre as
práticas de alfabetização, quais seriam os métodos mais eficazes que envolvia
os métodos sintéticos, analíticos e analíticos sintéticos, como ponto de
partida no ensino da leitura e da escrita esses métodos se diferenciavam entre
si, mas se pareciam em alguns aspectos, todos se baseiam na codificação e na
decodificação, das unidades mais fáceis para as mais difíceis.
Partindo da concepção de que os
professores transmitiam os conteúdos e os alunos ouviam, colocando-os em
posição de “recebedor” de algo já pronto. Eram utilizadas as cartilhas, que
eram como livros didáticos, nos métodos analíticos ou sintéticos, a criança
deveria ter uma prontidão, que seria o desenvolvimento das habilidades,
perspectiva e motoras, que era desenvolvido nos primeiros meses da 1°serie. O trabalho
com a linguagem era o desenvolvimento da coordenação motora, visual e auditiva,
os exercícios envolvia identificação de traçados e letras, silabas isoladas,
nesse contexto a leitura e a escrita eram evitadas.
Na 1° serie (1° ano de ensino
fundamental de oito anos), os alunos aprendiam as letras/ fonemas/silabas, por
meio de memorização, que possibilitaria ler palavras, pois tinham uma concepção
que todos aprendiam igual com a mesma sequência da cartilha, os professores
seguiam a risca, garantindo que todos saíssem alfabetizados, os textos eram
artificiais e não condiziam com o que os alunos conviviam fora da escola.
Em meados de 1970, o fracasso escolar
foi muito discutido, acreditavam que pela democratização do acesso a escola
para alunos desfavorecidos socialmente, fosse o motivo pelo fracasso escolar
devido à incapacidade desses alunos.
Mudavam-se as cartilhas, mas
continuavam com o ensino pautado ao aprendizado do código escrito, sem o uso
social da leitura e da escrita, os alunos passavam o tempo todo lendo e escrevendo
palavras e textos, com atividades repetitivas e não tinham evolução na
aprendizagem, as crianças que acertavam as atividades eram valorizadas, e os
que erravam e concluíam o ano sem o domínio do código escrito, só engrossavam
as estatísticas, cada vez mais abandonando escolas, sendo excluídos no seu
direito de aprendizagem da escrita e leitura, também esses alunos que não
aprendiam eram excluídos e colocados em salas com crianças com deficiências. Devido
a essas exclusões, a partir de 1980 as temáticas de exclusão e inclusão
começaram a ganhar força. A nova constituição de 1988 apresenta em seu art°
205: “A educação como direito de todos”.
Deixando para trás todo o contexto
histórico escolar de atender apenas uma parcela da população, direcionando uma
sala de aula homogênea, a partir da nova constituição seguiríamos um novo
conceito de inclusão, uma escola para todos. A partir de 1990, foram abrangendo
leis de inclusão, novas interpretações de desigualdades, bem como o acesso a
serviços e bens as camadas mais populares.
Podemos citar um documento que
constitui o marco da educação inclusiva, que foi a declaração de Salamanca,
durante a conferência de educação especial que afirma, o direito a educação a
todos os indivíduos, a igualdade de oportunidade ás pessoas com deficiências e
a promoção ao acesso a educação para a maioria das pessoas que apresentem
necessidades especiais (NEE), nesse documento reconhecem que as aprendizagens
são únicas, cada aluno possui características, habilidades e interesses
diferentes.
Um novo currículo
Vendo que os alunos não são iguais e
que cada um tem suas peculiaridades, por esse motivo Moreira e Candau, afirma
que:
“Insistimos,
inicialmente na necessidade de uma nova postura, por parte dos professores e
dos gestores, no esforço por construir currículos culturalmente orientados.
Propomos, a seguir, que rescrevam os conhecimentos escolares, que se evidencie
e ancoragem social desses conhecimentos, bem como se transforme a escola e o
currículo em espaços de critica cultural, de diálogo e desenvolvimento de
pesquisas. Esperamos que nossos princípios possa nortear a escolha de nossos
conteúdos, a adoção de novos procedimentos e o estabelecimento de novas
relações na escola e na sala de aula”.
Os métodos analíticos e sintéticos
foram muito criticados na década de 1980, pois muitas crianças não conseguiam
aprender, e acabavam repetindo a 1° serie, foram muito criticados, á luz das
teorias do construtivista e interacionista de ensino (em geral), e da língua
(em Particular).
No campo de alfabetização Emília
Ferreiro e Ana Teberosky, influenciaram para novas práticas de alfabetização,
trazendo a psicogênese da língua escrita, mostrando que a escrita não era um
código e não seria aprendido a partir de memorização e repetição, elas notaram
por meio de pesquisas, na apropriação do sistema de língua escrita alfabética,
os alunos precisavam entender como isso funciona. Visando a psicogênese da
língua escrita de Emília Ferreiro, mostra a importância de conhecer o nível do
desenvolvimento de cada aluno para poder orientar a aprendizagem, e isso era
adquirido pelas hipóteses da língua alfabética. A partir dos anos 90, vendo a
importância dos usos da escrita e da leitura com atividades significativas,
surge um novo conceito de alfabetização: o letramento que é a leitura social, o
reconhecimento de letras e figuras, os conhecimentos prévios dos alunos. Desse
modo a uma nova concepção do currículo na alfabetização.
“Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a
sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos
conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto,
produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia
de construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo
propriamente dito.” (VEIGA, 2002, p.7)
O
resultado desta “nova organização” do currículo, fez com que os projetos
políticos pedagógicos desenvolvidos pelas escolas, sofressem mudanças teóricas,
fazendo com que o corpo docente de cada instituição tenha maior embasamento
teórico para desenvolvê-lo. Atualmente a fundamentação do currículo em cada escola,
se da de forma fragmentada e hierárquica, onde primeiramente são ensinados os
conteúdos de maior importância e depois os de “menor” importância, levando em
consideração o tempo para que todas sejam exploradas da melhor forma.
A
organização do currículo deve ser interdisciplinar assegurando sempre a
comunicação entre todas as áreas do conhecimento. Porém muitas vezes em sala de
aula são explorados conteúdos cotidianos, aos quais nem sempre são
especificados ou inclusos nos planejamentos, esses conteúdos abordados fora do
planejamento, levam em consideração o conhecimento de mundo da criança.
Portanto esses conteúdos abordados de forma sutil e livre chamam-se: currículo
oculto.
O
currículo oculto refere-se à abordagem de conteúdos que tratam de temas
transversais, que consideram os conhecimentos prévios que o aluno já trás consigo,
visando o desenvolvimento global do aluno. O professor e todo o grupo docente
devem estar preparados, para lidar com temas que surgirem através de duvidas e
discussões dentro da sala de aula, promovendo então debates e discussões que
façam com que os alunos dividam seus conhecimentos e se expressem de uma forma
ampla e critica.
“a abordagem a partir do
currículo real e da experiência de vida tem consequências enormes quanto ao
papel do professor”, pois, “se ensinamos o ‘que somos’, segundo uma fórmula que
convém tanto à educação quanto à sociedade, o primeiro recurso da escola 'seria
o grau de cidadania dos professores”.
(PERRENOUD, 2005)
Referencias
Bibliográficas
http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/curriculo-oculto.htm (acessado em 07/11/2015)
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